20 dezembro 2009

Specially for ...

" O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."
Alberto Caeiro (F. P.)

Especialmente para a X. com um grande beijinho de Parabéns!

18 dezembro 2009

Sinto Muito


"A vida é tempo entre parêntesis.
Alma a nu, sentimento despido de pudor.
O amor como razão de ser e de viver.
(...)
Exemplo 2: «Vem nos livros…» Mas quais livros Deus meu! Escritos por quem? Mas será que as pessoas não sabem que a autoridade de um livro é apenas de quem o escreveu, naturalmente que uma pessoa que, como qualquer outra, tem os seus bias, erros, enviesamentos? (Uma variante muito utilizada pelos médicos, é: «Eles» dizem.) Em oposição, o reitor de Harvard, no discurso de encerramento do curso de Medicina começou da seguinte forma: «Metade do que vos ensinámos é mentira… não sei qual é essa metade!» "

in "Sinto Muito" de Nuno Lobo Antunes

13 dezembro 2009

marcador de livros (made by Moonshine)
Este livro+marcador foi o meu presente de boas-vindas para o BookCrosser com inscrição mais recente no Bookcrossing e que esteve presente no Jantar de Natal 2009 em Lisboa, BC Delta-J.

Jantar de Natal BookCrossing





Jantar de Natal que reuniu os BookCrossers num simpático convívio no Parque das Nações em Lisboa.
BCs presentes: Alexandrassilva, Pipmts, YellowBow, InesCF, ivosousa, Delta-J, SimplyP, Tanea31, Portunhola, lilifg1 e Pierrot-Moon.

10 dezembro 2009

Palavras de Fernando Pessoa


"Um sistema não é uma cabeça; um móvel não é gente. Todos os processos e todos os aparelhos resultarão elementos inúteis de organização se as cabeças dos indivíduos que os empregam não estiverem organizadas também. E essas cabeças estarão organizadas se estiver organizada devidamente a mesma parte do corpo do chefe que os dirige. Assim como se podem escrever asneiras com uma máquina de escrever do último modelo, se podem fazer disparates com os sistemas e os aparelhos mais perfeitos para ajudar a não fazê-los. Sistemas, processos, móveis, máquinas, aparelhos são - como todas as coisas mecânicas e materiais - elementos puramente auxiliares. O verdadeiro processo é pensar: a máquina fundamental é a inteligência. "
in "Palavras de Fernando Pessoa"

03 dezembro 2009

Almoço de Natal da CSI
Agradável convívio num almoço muito saboroso
(como curiosidade destaco que nem os livros escaparam)

30 novembro 2009

A Trilogia de Nova Iorque


"Agora, de repente, como se o mundo se tivesse afastado de si, com pouco mais para ver do que uma vaga sombra que dava pelo nome de Black, dá por si a pensar em coisas que nunca lhe tinham ocorrido antes, e isto começou também a preocupá-lo. Se, neste ponto, pensar é talvez uma palavra demasiado forte, um termo ligeiramente mais modesto – especulação, por exemplo – não andaria longe da verdade. Especular, do latim speculatus, que significa espiar, observar, derivado da palavra speculum, que significa espelho. Ora, espiar Black do outro lado da rua é como se Blue estivesse a olhar para um espelho, e em vez de estar apenas a observar-se a si próprio. A sua vida abrandou tão drasticamente que Blue é agora capaz de ver coisas que previamente escapavam à sua atenção. Por exemplo, a trajectória da luz que atravessa o quarto todos os dias, e a maneira como a certas horas o sol reflecte a neve no canto mais distante do tecto do seu quarto. O pulsar do seu coração, o som da sua respiração, o pestanejar dos seus olhos – Blue tem agora consciência destes ínfimos acontecimentos, e por mais que se esforce por os ignorar, eles persistem na sua mente como uma frase sem sentido incessantemente repetida. Sabe que não pode ser verdade, e contudo aos poucos esta frase parece adquirir um significado."

in "A Trilogia de Nova Iorque" de Paul Auster

27 novembro 2009

Bruxelas, Bélgica

MIM (Musée des Instruments de Musique), Bruxelas


Adorei a visita ao MIM.
Belíssimos instrumentos muito bem documentados (escrita e musical).

16 novembro 2009

O Outono do Patriarca


… mas aprendera a viver com essas e com todas as misérias da glória, à medida que descobria no transcurso dos seus anos incontáveis que a mentira é mais cómoda do que a dúvida, mais útil do que o amor, mais perdurável do que a verdade, tinha chegado sem espanto à ficção de ignomínia de mandar sem poder, de ser exaltado sem glória e de ser obedecido sem autoridade, quando se convenceu no rasto de folhas amarelas do seu Outono de que nunca havia de ser dono de todo o seu poder, que estava condenado a não conhecer a vida senão pelo avesso, condenado a decifrar as costuras e a corrigir os fios da trama e os nós da urdidura da gobelina de ilusões da realidade, sem suspeitar, nem sequer demasiado tarde, de que a única vida vivível era a de mostrar, a que nós víamos deste lado que não era o seu, meu general, deste lado de pobres onde estava o rasto de folhas amarelas dos nossos incontáveis anos de infortúnio e dos nossos instantes inapreensíveis de felicidade, onde o amor estava contaminado pelos germes da morte, mas era todo o amor, meu general, onde mesmo o senhor era apenas uma visão incerta de uns olhos lastimosos através dos vidros poeirentos da janela de um comboio, era apenas o tremor de uns lábios taciturnos, o adeus fugitivo de uma luva de cetim da mão de ninguém de um ancião sem destino que nunca soubemos quem foi, nem como foi, nem se foi apenas uma patranha da imaginação, um tirano de brincadeira que nunca soube onde estava o avesso e o direito desta vida, …

in "O Outono do Patriarca" de Gabriel García Márquez

13 novembro 2009

"Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes."
Ricardo Reis (F. P.)

12 novembro 2009

BookCrossing - Wild release

OBCZ Mapa Kyoto em Braga, Portugal - libertei (wild release) os livros "A queda da casa de Usher" de Edgar Allan Poe e "Segredos" de Danielle Steel, em Novembro de 2009

04 novembro 2009

bola de Berlim


"A história parece remontar à Segunda Guerra Mundial. Uma refugiada judia alemã em Portugal, para sobreviver, dedicou-se ao fabrico caseiro e à venda directa de um bolo que aprendera a confeccionar no seu país natal. Tratava-se de um frito de massa de farinha doce moldada como uma esfera na qual se injectava uma compota vermelha e se aprontava polvilhando de açúcar a superfície gordurosa. O nome de baptismo, Berlinner Ballen, aportuguesou-se, os consumidores apreciaram o produto e a disseminação foi rápida. Os pasteleiros nacionais atentos ao fenómeno da procura adoptaram-na de imediato e nacionalizaram a receita introduzindo-lhe a modificação que descrevemos e se traduz apenas pela omissão da compota primitiva e a sua substituição pelo creme depositado na abertura horizontal."
in Notícias magazine (crónica de Lima Reis)

27 outubro 2009

A insustentável leveza do ser


"Se cada segundo da nossa vida tiver de se repetir um número infinito de vezes, ficamos pregados à eternidade como Jesus Cristo à cruz. Que ideia atroz! No mundo do eterno retorno, todos os gestos têm o peso de uma insustentável responsabilidade. Era o que fazia Nietzche dizer que a ideia do eterno retorno é o fardo mais pesado (das schwerste Gewicht).
Se o eterno retorno é o fardo mais pesado, então, sobre tal pano de fundo, as nossas vidas podem recortar-se em toda a sua esplêndida leveza.
Mas, na verdade, será o peso atroz e a leveza bela?
……..
Que escolher então? O peso ou a leveza?
Foi a questão com que se debateu Parménides, no século VI antes de Cristo. Para ele, o universo estava dividido em pares de contrários: luz-sombra; espesso-fino; quente-frio; ser-não ser. Considerava que um dos pólos da contradição era positivo (o claro, o quente, o fino, o ser) e o outro, negativo. Esta divisão em pólos positivos e negativos pode parecer de uma facilidade pueril. Excepto num caso: o que é positivo: o peso ou a leveza?Parménides respondia que o leve é positivo e o pesado, negativo. Tinha razão ou não?"
in "A insustentável leveza do ser" de Milan Kundera

19 outubro 2009

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."
Platão
mix (imagem+texto) by Moonshine

16 outubro 2009


"O ALLgarve fica em Poortugal
O ministro da Economia , Manuel Pinho anunciou que para efeitos de coisas extremamente aborrecidas, que envolvem infra-estruturas do sector da hotelaria, juntas metropolitanas e todo um vasto leque de estupendas iniciativas, criou uma marca, que por sua vez dá o nome a um programa de eventos, chamada Allgarve. A ideia é tornar o Allgarve mais apetitoso e popular em toda a parte, designadamente naquele sítio mítico conhecido como «o estrangeiro». Para isso, juntou uma letra ao nome, com o objectivo de o tornar mais modernaço. Se pensavam que o Allgarve já não podia ficar mais inglês, enganaram-se. Aliás, o mais estranho na nova palavra Allgarve é, sem dúvida, o «garve». Sente-se que aquele resquício de portugalidade arraçada de árabe está a impedir o Allgarve de voar mais alto.
….
Creio mesmo que Portugal inteiro pode mudar de nome para se tornar mais apelativo lá fora. Proponho a nova designação «Poortugal», cujo prefixo pode dar a entender aos turistas estrangeiros que o custo de vida cá, é baixo, e que fazem umas férias bem boas com meia dúzia de tostões."

in "Boca do Inferno" de Ricardo Araújo Pereira

07 outubro 2009

BookCrossing - Wild release

Aeroporto Charles de Gaulle em Paris, França - libertei (wild release) o livro "Le Vent qui Siffle dans les Grues" da escritora portuguesa Lídia Jorge, em junho de 2009

BookCrossing - Wild release

Aeroporto de Brnik, Eslovenia - libertei (wild release) o livro "Um Coração Simples" de Gustav Flaubert, em junho de 2009

02 outubro 2009

Mulher em Tons de Tango


"O tango ficava a ganhar se fosse dançado com raiva. Havia outras danças que requeriam pés ágeis mas não venenosos. Em contrapartida, neste ritmo tão saltitante filtrava-se um rancor. Mireya fechou os olhos e deixou-se levar para um mundo sem cores, a preto e branco, onde o homem e a mulher ficavam reduzidos aos seus traços essenciais, rigorosos como dois algarismos. O homem fazia o contrário da mulher. Outros passos. Mas não era exactamente o oposto. Nunca eram simétricos. Não eram como reflexos num espelho. As imagens dele nela e dela nele pareciam distorcidas. Se se pudesse falar de espelho, seria de um espelho quebrado. Dançavam frente a frente duas pessoas desconhecidas que se contemplam perfeitamente no seu desconhecimento mútuo. A harmonia do desencontro. Eles não eram sequer o oposto um do outro. Eram uma fractura do reflexo e o seu único terreno de entendimento, uma linha de fuga."
in "Mulher em Tons de Tango" de Alicia Dujovne Ortiz

28 setembro 2009

"Imaginem um mundo onde o tempo não existe. Só imagens."
Alain Lightman
mix (imagem+texto) by Moonshine

26 setembro 2009

Os Insolentes

"Mais uma vez, depois da partida de Louise, a solidão instalou-se no prado estreito que a sombra preenchia. Realmente a noite levou tempo a instalar-se, mas para Maud a sua investida foi brutal e decisiva. Pensou que de repente acordara na escuridão. Brilhavam luzes ao longe, no horizonte. Já não se ouviam os pássaros, mas, do matagal ali à volta, chegava o gri-gri dos grilos e sons de fuga misteriosa. Ouviu um assobio muito ao longe: era o comboio para Bordéus, o das nove. De costume, quando era pequena, era numa cozinha quente ou durante um serão pacífico que ouvia assim o apelo da locomotiva. Assobiava por diversas vezes, com intervalos regulares, separados por verdadeiros abismos de silêncio, no fundo do qual pareciam esconder-se perigos obscuros, ameaças surdas. O comboio descia o declive do planalto, em direcção ao Semoic, com um ranger infernal de ferro-velho. A curva era perigosa, sempre mergulhada em bruma e disfarçada pelos álamos de Uderan. Imaginava-se o aparecimento daquele monstro como se a bruma e os bosques dessem à luz."

in "Os Insolentes" de Marguerite Duras

18 setembro 2009

"Senti-me inquieto já. De repente, o silêncio deixara de respirar."
Bernardo Soares (Fernando Pessoa)
mix (imagem+texto) by Moonshine

17 setembro 2009

O Principezinho


«Mas ele não respondeu à minha pergunta. Disse:
- O que é importante, não se vê…
- Pois não…
- É como com a flor. Quando se ama uma flor que está plantada numa estrela, é bom olhar para o céu, à noite. É que todas as estrelas ficam floridas…
- Pois ficam.
- E é como com a água. A que tu me deste de beber era como uma música, por causa da roldana e da corda… Lembras-te?... Era tão boa!
- Pois era…
- Depois, à noite, pões-te a olhar para as estrelas. A minha é pequenina demais para se ver daqui. Mas é melhor assim: para ti, a minha estrela vai ser uma estrela qualquer. Assim gostas de olhar para as estrelas todas… Todas elas serão tuas amigas. E agora vou dar-te uma prenda!
E voltou a rir.
- Ah, meu menino, meu menino, como eu gosto de ver esse teu riso!
- É precisamente a minha prenda… É como com a água…
- O que é que isso quer dizer?
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para os viajantes, as estrelas são guias. Para os outros, não passam de luzinhas. Para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram ouro. Mas todas essas estrelas estão caladas. Tu, tu vais ter estrelas como mais ninguém…
- O que é que isso quer dizer?
- À noite, pões-te a olhar para o céu e, como eu moro numa delas, como eu me estou a rir numa delas, para ti, é como se todas as estrelas se rissem! Vais ser a única pessoa do mundo que tem estrelas capazes de rir!
E voltou a rir.
- E quando te tiveres consolado (porque acabamos sempre por nos consolar), hás-de sentir-te muito contente por me teres conhecido. Hás-de ser sempre meu amigo. Vai-te apetecer rir comigo. E, às vezes, sem mais nem menos, vai-te dar para abrir a janela, só porque é bom… E os teus amigos vão ficar de boca aberta quando te ouvirem rir a olhar para o céu. Mas tu dizes-lhes: “ Pois é! As estrelas sempre me deram vontade de rir!” E eles ficam a pensar que tu estás maluco. Rica partida que eu te vou pregar, não é?»

in "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

12 setembro 2009

To: Ri

Happy Birthday to You
" Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes."
Um universo de beijinhos de Parabéns!

11 setembro 2009

Recepção ao Caloiro


«"Colegas do desespero"
Todos nós constituimos uma "vizinhança" do "aberto" que é a Matemática e como já vem sendo "norma" nesta altura, pretendemos, com "demonstrações" deste género, "reparametrizar" a ideia de que uns são mais vizinhos do que outros, quando na realidade deveriamos constituir cada um, "de per si", o centro de um "aberto" cuja intersecção", pretendendo-se "infinita", seja ainda um "aberto", onde não existem "distâncias" mas sim "isomorfismos".
Constituamos pelo menos hoje, uma "família" onde os "grupos" se misturem, de maneira a transformarem-se num "ideal primo" da boa convivência e camaradagem.
Que todos nós sejamos "operadores" dessa alegria que se pretende, definindo um "produto interno" que se mantenha indefinidamente não nulo e "estritamente positivo".
Desesperadamente,
Os Desesperados »
Será que estas palavras de um discurso de Recepção ao Caloiro, há muitos anos na FCTUC, ainda estão na memória de alguém?