30 janeiro 2011

23 janeiro 2011

(Auguste Rodin)

"Desmaiei um bocado da minha vida. Volto a mim sem memória do que tenho sido, e a do que fui sofre de ter sido interrompida. Há em mim uma noção confusa de um intervalo incógnito, um esforço fútil da parte da memória para querer encontrar a outra. Não consigo reatar-me. Se tenho vivido, esqueci-me de o saber." 

in "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares (Fernando Pessoa)
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22 janeiro 2011

O General no seu Labirinto

"A verdade era que até os seus amigos mais íntimos não acreditavam que deixasse o poder nem o país. A cidade era demasiado pequena e as suas gentes demasiado intrometidas para não conhecerem as duas grandes falhas da sua viagem incerta: que não tinha dinheiro suficiente para chegar onde quer que fosse com um séquito tão numeroso, e que tendo sido presidente da república não podia sair do país antes de um ano sem uma autorização do Governo, e nem sequer tivera a astúcia de a solicitar. A ordem de fazer as malas, que ele deu de uma forma ostensiva para ser ouvido por quem quisesse, não foi entendida como uma prova concludente nem mesmo por José Palácios, pois noutras ocasiões tinha chegado ao extremo de desmantelar uma casa para fingir que se ia embora, e sempre fora uma manobra certeira. Os seus ajudantes militares sentiam que os sintomas de desencanto eram demasiado evidentes no último ano. No entanto, acontecera outras vezes, e no dia menos pensado viam-no acordar com ânimo novo, para retomar o fio da vida com mais ímpeto do que antes. José Palácios, que sempre seguira de perto estas mudanças imprevisíveis, dizia à sua maneira: "O que o meu senhor pensa, só o meu senhor sabe." As suas renúncias frequentes constavam do cancioneiro popular, desde a mais antiga, anunciada com uma frase ambígua no próprio discurso com que assumiu a presidência: "O meu primeiro dia de paz será o último do poder." Nos anos seguintes voltou a renunciar tantas vezes, e em circunstâncias tão díspares, que nunca mais se soube quando era certo."

in "O General no seu Labirinto" de Gabriel García Márquez

16 janeiro 2011

Livro


"Nas suas mãos, a cor da capa estava esbatida pela quantidade de tempo que tinha passado fechado na mala, enquanto olhar para ele a magoava. O peso parecia diferente, a sua realidade era diferente da sua lembrança, da sua cicatriz. Assim, sentiu ainda um tremor antigo quando arrumou o livro na mala, ao lado do pequeno farnel embrulhado num guardanapo de pano, ao lado da carteira, das chaves. E, na madrugada seguinte, levou-o consigo para a biblioteca.
Havia de ganhar coragem.
Ao terceiro dia, respirou e, quando acreditou que ia começar a ler, houve alguma coisa que a distraiu, uma empregada da biblioteca que a chamou para lhe falar de um assunto das casas de banho, os espelhos, e só voltou ao livro, quando já era hora de sair. Estava na mesa onde o tinha deixado e admirou-se, escancarou a boca. O livro estava mexido. Alguém o tinha aberto numa página, número 224, e feito pequenos círculos a lápis, à volta das seguintes palavras: gosto, de, ti. Três palavras distribuídas pela página com círculos à volta. Olhou em redor e, ao longe, entre pessoas distraídas, viu o leitor de livros da biblioteca a fixá-la. Desviou o olhar, guardou o livro na mala e saiu. De repente, estava na rua. Levava pensamentos a ganharem volume, como nuvens."

in "Livro" de José Luís Peixoto

15 janeiro 2011

saboreie chocolate preto

45 Truques para viver melhor em 2011 
(destaque de capa da revista Notícias Magazine #972)
dica nº 3 - saboreie chocolate preto

Yeahhhh! Nessa alinho sempre.
I love chocolate preto!

Top Chocolate: Magnum Essence
Hummmm... que delícia!

08 janeiro 2011

(Madonna de Boticelli)

"O ar é de um amarelo escondido, como um amarelo-pálido visto através de um branco sujo. Mal há amarelo no ar acizentado. A palidez do cinzento, porém, tem um amarelo na sua tristeza."
Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

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