26 novembro 2012

24 novembro 2012

23 novembro 2012

Cemitério de Lunáticos I

"E lá estavam de facto eles.
Os lunáticos. Os imbecis. Os idiotas.
Essa molede adoradores, postados perante o relicário que eram os estúdios.
Bem à maneira dos viajantes da madrugada, que em tempos me haviam acotevelado no ataque aos camarotes do Hollywod Legium Stadium, a fim de vermos Cary Grant passar a correr, ou Mae West ondular pelo meio da multidão, como uma boa de penas sem ossos, ou então Groucho, oculto por Johny Weissmuller, que arrastava Lupe Velez atrás de si como se fosse uma pele de leopardo.
Os chalados, entre as quais a minha pessoa, munidos de grandes álbuns de fotografias, as mãos manchadas empunhando pequenos cartões garatujados. Os doidinhos, que se mantinham alegremente, encharcados em chuva, à porta do teatro onde decorria a première de Dame ou Flirtation Walk, enquanto a Depressão prosseguia, ainda que Roosevelt afirmasse que ela não poderia durar para sempre e que os Dias Felizes haveriam de voltar. 
Os predadores, os chacais, os demónios, os viciados, os tristes, os perdidos.
Em tempos, também eu fizera parte deles.
E agora ali estavam. A minha família."

in "Cemitério de Lunáticos" vol I de Ray Bradbury

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Cemitério de Lunáticos foi a minha leitura pelas nuvens na minha viagem a Moscovo.

20 novembro 2012

Crónica de Gonçalo M. Tavares

Domingo. Pequeno-almoço. Leitura obrigatória, a NM, claro! E, como sempre, na última página está  uma crónica desconcertante de Gonçalo M. Tavares. Mais uma que nos deixa espantados pois consegue chegar a conclusões absurdas através de raciocínios perfeitamente lógicos. Um escrita fantástica!
"(...) ... sobre as pontes
A ponte é um barco de grande comprimento levantado por um guindaste e que naufragou com a proa numa das margens e com a ré na outra. Como não o conseguiam desencravar utilizaram-no como estrada de passagem de uma margem para outra. Um barco é portanto uma ponte desencravada das margens ou uma ponte que alguém ( o engenheiro, o engenheiro!) teve o cuidado de fazer com pequenas dimensões. Viajar de barco, de um continente a outro, é atravessar a ponte que liga os dois continentes, a pé, e durante muito tempo. Um barco é uma ponte com motor, e uma ponte é um barco sem motor." 
de Gonçalo M. Tavares in Notícias Magazine (18Nov2012)

19 novembro 2012

"Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança."
Niccolo Maquiavel

16 novembro 2012

last day








 Desktop last image.
Tomorrow is another day.








"Fim - o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa."
 Agustina Bessa-Luís

04 novembro 2012

Gonçalo M. Tavares

"O senhor Pessoa sentou-se, levantou-se, sentou-se de novo.
(...)
... sobre o espaço e o tempo
O meio de uma sala é o ponto onde se pode colocar uma cadeira a qualquer altura do dia. O meio-dia não é o meio do dia como existe o meio de uma sala. Não é possível colocar uma cadeira no meio-dia em qualquer altura do dia. Pelo contrário: só se pode colocar uma cadeira exactamente no meio-dia a uma hora exacta (ao segundo). Uma cadeira colocada ao meio-dia terá de ser de imediato retirada, pois um segundo depois deixa de estar colocada ao meio-dia. O mesmo já não acontece com uma cadeira colocada a meio da sala. Uma cadeira pode ficar a meio da sala durante três meses. A diferença entre espaço e tempo pode ser explicada de muitas maneiras, e desta maneira também não percebemos completamente."
(...)
in Notícias Magazine (4Nov2012) de Gonçalo M. Tavares

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A NM de cada domingo é fechada com chave de ouro. A última página da revista é destinada às crónicas de Gonçalo M. Tavares. A revista americana The New Yorker já elogiou o escritor: "Ele tem o dom - como Flann O'Brien, Kafka ou Beckett - de mostrar a forma como a lógica pode servir o escritor eficazmente tanto a loucura como a razão."