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"A fita magnética do gravador passa lentamente de um rodízio a outro à espera da palavra. A pergunta já lá está, agora o entrevistador olha o entrevistado com uma doce e irónica curiosidade, porque conhece quase sempre a resposta antes que lhe seja dada, ou é capaz de adivinhar o mais interessante dela quando a não conheça toda. Bem se pode afirmar que as entrevistas serão um jogo sem surpresas se não conseguirem que o próprio entrevistado se entreveja. As perguntas, ou batem no muro que todo o entrevistado é, e ressaltam trazendo mecanicamente a resposta, ou abrem nele uma brecha. Neste caso, o entrevistado terá de olhar devagar para o interior da ferida, não porque não tenha apreendido a pergunta, mas porque necessitará apreender-se a si mesmo, dar tempo a que as ideias surpreendidas pela súbita luz se busquem umas às outras a fim de que a resposta se organize num discurso coerente, ainda que hesitante, coerente, ainda que duvidoso, coerente, ainda que perplexo. Só então a palavra que o gravador vai recolher será uma palavra sincera."
in "Cadernos de Lanzarote Diário-V" de José Saramago
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