"Ouvia, ao longe, o som das danças de Rachmaninoff que vinha do Alpendre, mas tirando isso era como se estivesse ali sozinho, profundamente embrenhado nas dobras daqueles montes verdes. Sentei-me na relva, estupefacto, incapaz de explicar o que estava a pensar: ele tem um segredo. Este homem idealizado de acordo com os mais convincentes e credíveis traços emocionais, esta força com uma história tal, este homem benignamente astucioso, suavemente encantador e aparentemente viril em todos os aspectos, tem, no entanto, um segredo imenso. Como chego a esta conclusão? Porquê um segredo? Porque está ali, sente-se, quando ele está com ela. E também quando não está com ela. É no segredo que reside o magnetismo dele. O que fascina é qualquer coisa que não está ali, e é isso que me tem atraído desde o princípio, o enigmático não sei quê que ele manteém à parte, que reserva como seu e de mais ninguém. organizou-se como a lua, para ser só metade visível. E eu não posso torná-lo totalmente visível. Há um espaço em branco. É só isso que sei. Eles são, juntos, um par de espaços em branco. Há um espaço em branco nela e, apesar do seu ar de homem firmemente estável e até, sendo preciso, um adversário obstinado e decidido - o colérico gigante da universidade que preferiu demitir-se a aceitar os humilhantes disparates dos seus pares -, há também, algures, um espaço em branco nele, uma rasura, uma excisão, embora eu não faça a mínima ideia do quê... "
in "A Mancha Humana" de Philip Roth
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