28 setembro 2009

"Imaginem um mundo onde o tempo não existe. Só imagens."
Alain Lightman
mix (imagem+texto) by Moonshine

26 setembro 2009

Os Insolentes

"Mais uma vez, depois da partida de Louise, a solidão instalou-se no prado estreito que a sombra preenchia. Realmente a noite levou tempo a instalar-se, mas para Maud a sua investida foi brutal e decisiva. Pensou que de repente acordara na escuridão. Brilhavam luzes ao longe, no horizonte. Já não se ouviam os pássaros, mas, do matagal ali à volta, chegava o gri-gri dos grilos e sons de fuga misteriosa. Ouviu um assobio muito ao longe: era o comboio para Bordéus, o das nove. De costume, quando era pequena, era numa cozinha quente ou durante um serão pacífico que ouvia assim o apelo da locomotiva. Assobiava por diversas vezes, com intervalos regulares, separados por verdadeiros abismos de silêncio, no fundo do qual pareciam esconder-se perigos obscuros, ameaças surdas. O comboio descia o declive do planalto, em direcção ao Semoic, com um ranger infernal de ferro-velho. A curva era perigosa, sempre mergulhada em bruma e disfarçada pelos álamos de Uderan. Imaginava-se o aparecimento daquele monstro como se a bruma e os bosques dessem à luz."

in "Os Insolentes" de Marguerite Duras

18 setembro 2009

"Senti-me inquieto já. De repente, o silêncio deixara de respirar."
Bernardo Soares (Fernando Pessoa)
mix (imagem+texto) by Moonshine

17 setembro 2009

O Principezinho


«Mas ele não respondeu à minha pergunta. Disse:
- O que é importante, não se vê…
- Pois não…
- É como com a flor. Quando se ama uma flor que está plantada numa estrela, é bom olhar para o céu, à noite. É que todas as estrelas ficam floridas…
- Pois ficam.
- E é como com a água. A que tu me deste de beber era como uma música, por causa da roldana e da corda… Lembras-te?... Era tão boa!
- Pois era…
- Depois, à noite, pões-te a olhar para as estrelas. A minha é pequenina demais para se ver daqui. Mas é melhor assim: para ti, a minha estrela vai ser uma estrela qualquer. Assim gostas de olhar para as estrelas todas… Todas elas serão tuas amigas. E agora vou dar-te uma prenda!
E voltou a rir.
- Ah, meu menino, meu menino, como eu gosto de ver esse teu riso!
- É precisamente a minha prenda… É como com a água…
- O que é que isso quer dizer?
- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para os viajantes, as estrelas são guias. Para os outros, não passam de luzinhas. Para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram ouro. Mas todas essas estrelas estão caladas. Tu, tu vais ter estrelas como mais ninguém…
- O que é que isso quer dizer?
- À noite, pões-te a olhar para o céu e, como eu moro numa delas, como eu me estou a rir numa delas, para ti, é como se todas as estrelas se rissem! Vais ser a única pessoa do mundo que tem estrelas capazes de rir!
E voltou a rir.
- E quando te tiveres consolado (porque acabamos sempre por nos consolar), hás-de sentir-te muito contente por me teres conhecido. Hás-de ser sempre meu amigo. Vai-te apetecer rir comigo. E, às vezes, sem mais nem menos, vai-te dar para abrir a janela, só porque é bom… E os teus amigos vão ficar de boca aberta quando te ouvirem rir a olhar para o céu. Mas tu dizes-lhes: “ Pois é! As estrelas sempre me deram vontade de rir!” E eles ficam a pensar que tu estás maluco. Rica partida que eu te vou pregar, não é?»

in "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

12 setembro 2009

To: Ri

Happy Birthday to You
" Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes."
Um universo de beijinhos de Parabéns!

11 setembro 2009

Recepção ao Caloiro


«"Colegas do desespero"
Todos nós constituimos uma "vizinhança" do "aberto" que é a Matemática e como já vem sendo "norma" nesta altura, pretendemos, com "demonstrações" deste género, "reparametrizar" a ideia de que uns são mais vizinhos do que outros, quando na realidade deveriamos constituir cada um, "de per si", o centro de um "aberto" cuja intersecção", pretendendo-se "infinita", seja ainda um "aberto", onde não existem "distâncias" mas sim "isomorfismos".
Constituamos pelo menos hoje, uma "família" onde os "grupos" se misturem, de maneira a transformarem-se num "ideal primo" da boa convivência e camaradagem.
Que todos nós sejamos "operadores" dessa alegria que se pretende, definindo um "produto interno" que se mantenha indefinidamente não nulo e "estritamente positivo".
Desesperadamente,
Os Desesperados »
Será que estas palavras de um discurso de Recepção ao Caloiro, há muitos anos na FCTUC, ainda estão na memória de alguém?

09 setembro 2009

Cinco Quartos de Laranja

"Já estão a ver como tudo começou tão inocentemente. A nossa intenção nunca foi magoar ninguém e, contudo, há dentro de mim um sítio duro que se lembra implacavelmente e com perfeita precisão. A mãe percebeu os perigos antes de qualquer um de nós. Eu era tão escorregadia e instável como a dinamite. Ela percebeu isso e, à sua maneira estranha, tentou proteger-me mantendo-me perto dela, mesmo quando teria preferido o contrário. Eça percebia mais do que eu imaginava.
Não que isso me importasse. Tinha o meu próprio plano, um plano tão complexo e cuidado como as armadilhas no rio para o lúcio. Houve uma altura em que pensei que o Paul adivinhara mas, se assim foi, ele nunca disse nada. Começos modestos, que levaram a mentiras, a enganos e a pior.
Tudo começou com uma banca de fruta numa manhã de sábado no mercado. Foi a cinco de Julho, dois dias depois de ter feito nove anos.
Tudo começou com uma laranja.”

in "Cinco Quartos de Laranja" de Joanne Harris

01 setembro 2009

Relíquia


"Margo continuou nessa penumbra, movendo a lanterna pelo corredor, tentando deliberadamente, ver o monstro que deveria estar acocorado num canto a observá-los.
«Ainda não» murmurou Pendergast. «Espere até se mostrar plenamente.»
A criatura parecia estar quieta durante o que lhes pareceu uma eternidade, em silêncio, como uma gárgula de pedra. Margo podia vislumbrar os pequenos olhos vermelhos que a observavam na escuridão. Uma vez por outra, esses olhos desapareciam, para depois voltarem a aparecer, à medida que a criatura ia pestanejando.
Em seguida, o monstro deu outro passo, depois voltou a parar, como se para se decidir, com o corpo agachado, tenso e pronto a investir.
Começou então a avançar, na direcção deles, com terríveis saltos.
»Agora!» gritou Pendergast.
Margo tentou agarrar o capacete de mineiro e o corredor ficou subitamente banhado de luz. Quase de imediato sentiu um enorme BUM! À medida que a pistola de Pendergast ia disparando ao lado dela. O monstro parou, por instantes, e Margo conseguia vê-lo a pestanejar, abanando a cabeça diante da luz. Voltou-se então para trás, como se para morder a parte por onde a bala tinha passado. Margo sentiu uma profunda sensação de irrealidade: a cabeça do monstro surgia-lhe agora pálida e horrivelmente alongada, a marca da bala de Pendergast era apenas um risco branco por cima dos olhos, as poderosas patas da frente estavam cobertas com uma pelagem espessa e terminavam em longas garras; as patas de trás eram de pele enrugada e terminavam em cinco dedos."
in "Relíquia" de Douglas Preston & Lincoln Child