23 novembro 2012

Cemitério de Lunáticos I

"E lá estavam de facto eles.
Os lunáticos. Os imbecis. Os idiotas.
Essa molede adoradores, postados perante o relicário que eram os estúdios.
Bem à maneira dos viajantes da madrugada, que em tempos me haviam acotevelado no ataque aos camarotes do Hollywod Legium Stadium, a fim de vermos Cary Grant passar a correr, ou Mae West ondular pelo meio da multidão, como uma boa de penas sem ossos, ou então Groucho, oculto por Johny Weissmuller, que arrastava Lupe Velez atrás de si como se fosse uma pele de leopardo.
Os chalados, entre as quais a minha pessoa, munidos de grandes álbuns de fotografias, as mãos manchadas empunhando pequenos cartões garatujados. Os doidinhos, que se mantinham alegremente, encharcados em chuva, à porta do teatro onde decorria a première de Dame ou Flirtation Walk, enquanto a Depressão prosseguia, ainda que Roosevelt afirmasse que ela não poderia durar para sempre e que os Dias Felizes haveriam de voltar. 
Os predadores, os chacais, os demónios, os viciados, os tristes, os perdidos.
Em tempos, também eu fizera parte deles.
E agora ali estavam. A minha família."

in "Cemitério de Lunáticos" vol I de Ray Bradbury

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Cemitério de Lunáticos foi a minha leitura pelas nuvens na minha viagem a Moscovo.

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