22 maio 2009

O homem que via passar os comboios

"A mão de Kees, metida numa algibeira, encontrou por acaso uma pequena agenda encadernada em marroquim vermelho, dourada no topo das folhas, que ele comprara por um florim afim de aí anotar as suas partidas de xadrez mais difíceis. O gesto nada tinha de extraordinário. Kees estava absolutamente inactivo. Na agenda, ainda só havia duas partidas anotadas, ou seja, duas páginas cobertas de sinais convencionais. Então aconteceu que ele pegou no lápis metido na encadernação e escreveu:
Saí de Groninga no comboio das 16h 7.
Em seguida, tornou a enfiar a agenda no bolso, só a retomando após a estação de Sneek para acrescentar:
Paragem demasiado breve para beber um copo.
Ora, muito mais tarde, esta agenda, estas notas, iriam servir aos alienistas para estabelecer que, desde a sua partida de Groninga, ele estava louco!"

in "O homem que via passar os comboios" de George Simenon

(libertei o livro em Controlled Release - ofereci-o a uma BookCrosser.)

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