18 agosto 2009

O Códice Secreto


"A escrita era uma caligrafia densa, que parecia mais uma sebe de ramos negros espinhosos enredados ou o ferro forjado de uma escada de incêndio. Era quase completamente ilegível; só quando ele fixava uma única palavra é que alguns dos traços pontiagudos se definiam lentamente como letras reconhecíveis. O que é que significava? Ele olhava fixamente para o texto e este tremeluziu como se ameaçasse fazer sentido, prometendo tudo mas não concedendo nada, o sìmbolo de um símbolo. Era como os problemas de xadrez que ele resolvia com tão ridícula facilidade quando tinha sete anos e para os quais olhava agora nas páginas dos jornais, completamente incapaz de os compreender. Sem saber porquê, queria tão desesperadamente saber o que é que dizia, que os olhos lhe ardiam, mas o códice resistia - era como uma geada do significado, significação em estado puro, condensada, recolhida em papel naqueles traços negros, de um negrume tão grande que ofuscava.
Mais ou menos ao meio da coluna esquerda, o escriba tinha transformado um Y num quadro em miniatura: um miserável camponês corcunda carregava um ramo seco de árvores às costas, através de uma paisagem coberta de neve. Ia dobrado ao meio sob a carga, como se o peso do que esta significava fosse demasiado doloroso para que ele o conseguisse suportar."

in "O Códice Secreto" de Lev Grossman

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