"A verdade era que até os seus amigos mais íntimos não acreditavam que deixasse o poder nem o país. A cidade era demasiado pequena e as suas gentes demasiado intrometidas para não conhecerem as duas grandes falhas da sua viagem incerta: que não tinha dinheiro suficiente para chegar onde quer que fosse com um séquito tão numeroso, e que tendo sido presidente da república não podia sair do país antes de um ano sem uma autorização do Governo, e nem sequer tivera a astúcia de a solicitar. A ordem de fazer as malas, que ele deu de uma forma ostensiva para ser ouvido por quem quisesse, não foi entendida como uma prova concludente nem mesmo por José Palácios, pois noutras ocasiões tinha chegado ao extremo de desmantelar uma casa para fingir que se ia embora, e sempre fora uma manobra certeira. Os seus ajudantes militares sentiam que os sintomas de desencanto eram demasiado evidentes no último ano. No entanto, acontecera outras vezes, e no dia menos pensado viam-no acordar com ânimo novo, para retomar o fio da vida com mais ímpeto do que antes. José Palácios, que sempre seguira de perto estas mudanças imprevisíveis, dizia à sua maneira: "O que o meu senhor pensa, só o meu senhor sabe." As suas renúncias frequentes constavam do cancioneiro popular, desde a mais antiga, anunciada com uma frase ambígua no próprio discurso com que assumiu a presidência: "O meu primeiro dia de paz será o último do poder." Nos anos seguintes voltou a renunciar tantas vezes, e em circunstâncias tão díspares, que nunca mais se soube quando era certo."
in "O General no seu Labirinto" de Gabriel García Márquez
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