24 março 2011

Marina


"O tempo não nos torna mais sábios, apenas mais cobardes.
Durante anos fugi sem saber porquê. Julguei que, se corresse atrás do horizonte, as sombras do passado se afastariam do meu caminho. Julguei que, se criasse suficiente distância, as vozes da minha mente se calariam para sempre. Regressei por fim àquela praia secreta em frente do Mediterrâneo. A ermida de Sant Elm erguia-se ao longe, sempre vigilante. Encontrei o velho Tucker do meu amigo Germán. Curiosamente, continua lá, no seu destino final entre os pinheiros.
Desci à beira-mar e sentei-me na areia, onde anos antes espalhara as cinzas de Marina. A mesma luz daquele dia iluminou o céu e senti a sua presença com intensidade. Compreendi que já não podia nem queria fugir mais. Voltara a casa.
Prometi a Marina nos seus últimos dias que, se ela não o pudesse fazer, eu acabaria esta história. Aquele livro em branco que lhe ofereci acompanhou-me todos estes anos. As suas palavras serão as minhas. Não sei se saberei fazer justiça à minha promessa. Às vezes duvido da minha memória e pergunto a mim mesmo se apenas serei capaz de recordar o que nunca aconteceu.
Marina, levaste todas as respostas contigo."

in "Marina" de Carlos Ruiz Zafón

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