17 agosto 2012

O Deus das Moscas


 
"A maré subia e havia apenas uma faixa de praia entre a água e a refuga branco e obstrutor, junto do terraço do palmar. Rafael escolhe a faixa dura para o seu piso, pois necessita de pensar, e só aqui pode mover os pés sem ter de os observar. De súbito, caminhando à borda-de água, sente-se esmagado de surpresas. Descobre que compreende o tédio da sua existência, em que cada caminho é uma improvisação, e uma considerável parte do tempo em que está acordado é consumida em ver onde põe os pés. Detém-se diante da faixa, e, ao relembrar aquela primeira exploração entusiástica, como se ela fizesse parte de uma infância mais deleitosa, sorri escarninho. Volta-se e dirige-se para o terraço, suportando o sol na cara. Chegara a hora da reunião, e, enquanto caminha ao encontro dos esvaecentes esplendores solares, reconsidera cuidadosamente os pontos, do seu discurso. Não deveria haver qualquer engano nesta reunião, nenhuma corrida atrás do imaginário... Perde-se num novelo de pensamentos, que se tornam vagos por falta de palavras para os exprimir. Franzindo a testa, tenta de novo."

in "O Deus das Moscas" de William Golding
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"Lord of the Flies", título original de "O Deus das Moscas", foi publicado pela primeira vez em 1954 e foi a primeira novela deste escritor.
William Golding foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1983.

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