21 fevereiro 2013

Cemitério de Lunáticos II


"- Jesus! Estamos mesmo à beirinha da nossa primeira luta de pesos pesados a sério. Recua.
- Reconheceste-a?
- Tinha olhos. E os olhos não se modificam.
- Pára com isso! - berrou ela.
- Okay - resmunguei. - Já parei.
- Pronto, aí tens. - Mais lágrimas voaram, semelhantes a diminutos cometas. - Já te amo outra vez. - Esboçou um sorriso batido pelo vento, o cabelo a emaranhar-se e a soltar-se sob a acção da corrente de ar, que nos banhava com uma brisa fria por cima do pára-brisas. Todos os ossos do meu corpo se derreteram perante aquele sorriso. Meus Deus, pensei, então ela não venceu sempre, todos os dias, durante toda a sua vida, com aquela boca e aqueles dentes e aqueles grandes olhos falsamente inocentes?
- Pois foi! - riu-se Constance, adivinhando-me os pensamentos.
- E olha agora - disse-me.
Parou de repente diante dos portões dos estúdios. Ergueu o olhar por um longo momento.
- Ah, meu Deus! - acabou por proferir. - Não é hospital nenhum. É onde as ideias do grande elefante vão morrer. Um cemitério para lunáticos."

in "Cemitérios de Lunáticos" de Ray Bradbury

****************************
"Cemitério de Lunáticos" é uma obra de ficção, mistério, suspense e um ambiente irreal que são características dos livros deste escritor que ficou celebrizado pelo seu livro "Fahrenheit 451".

Sem comentários:

Enviar um comentário